terça-feira, 22 de setembro de 2015

O Actor



Posso sempre escolher ser actor ou espectador, em ambas continuo espectador, seja do que vivo seja do que observo. Por isso, vou mantendo aquele silencio ensurdecedor, enquanto decido apertar as mãos ao actor que convido novamente a voltar. Como espectador, vou percebendo que o tempo de hoje não vai ser o mesmo tempo de amanhã, porque o tempo sempre me ensina que o tempo de amanhã não existe. Naquele tempo, naquele teatro do Mundo, que há muito vem sendo explorado, tanto na sua forma, na sua alma ou no seu corpo, aparece-me como sendo apenas um intruso. Deparo que no mesmo bairro onde há tanto tempo sobrevivo, umas das trágicas coisas que vou percebendo na nossa natureza humana, é que todos nós temos aquela eterna tendência para adiar o viver.
Vamos sonhando com um jardim mágico de rosas, sempre debaixo do nosso horizonte, ao invés de podermos desfrutar das rosas que vão florescendo em redor das janelas de nossos quartos. Realizo que o grande teatro do Mundo, bem pode esperar lá fora, porque o verdadeiro teatro já se encontra há muito, em meu redor, na minha presença, bem dentro de mim!

sábado, 19 de setembro de 2015

Aquelas tardes de Domingo.....



É muito comum, lembrarmos com saudade o tempo que ficou, seja com a nostalgia desse mesmo passado, seja através das lembranças, invariavelmente boas, mesmo que esse passado nos tenha corrido menos bem. Como se o tempo tivesse passado, e apenas tivesse permanecido em mim, as lembranças das jovens tarde de Domingo, ou as tantas alegrias dos velhos tempos naquele Outono distante. Hoje lembro com saudade, a alegria contagiante que sentia na minha adolescência, aquela ilusão permanente que poderia transformar o Mundo, esse Mundo que estava aí para o conquistar. Lembro-me como se tivesse acontecido ontem. Aquela estranha sensação, de sentir muitas vezes, de que o tempo não passou, apenas eu passei por ele. Vem a propósito de uma obra, de um livro de que acabei de escrever. A história, é apenas ficção, não tem a ver, ou não tem  qualquer semelhança com a minha vida, nem se trata mesmo de que como idealizaria a minha vida, ou de como a projectaria, mas apenas uma história, que no fundo é uma viagem de alguém, e que escrita em trezentas páginas, encerra um percurso. E a pergunta é, nessa história, escrita por mim, que nessa lógica passou por mim, foi concebida e terminada em mim, tem a ver comigo? Não, nada, apenas fui um veículo, embora muitos que a leiam, a possam associar á minha vida. Engraçado como ao descrever a viagem dessa personagem, fui em simultâneo fazendo uma viagem ao meu passado. E está lá tudo, a história encarregou-se de o guardar, não é possível apaga-lo e voltar a reescreve-lo. E tal como me parece que esse passado, continua sempre presente, assim constato que de facto o tempo não passou por mim, apenas eu fui passando por ele!

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Não há outra forma de dizer...



Não há outra forma de dizer, resgatar a minha vida, resgatando o que perdi, como se numa viela se tivesse perdido, numa viela que pensava avenida. Ora, retomado  o caminho, na viela que pensava avenida, vejo o caminho com mais clareza do que nunca. É bom ser gente quando se entende o que é ser gente, seja gente de vida cheia, seja gente de vida vazia. Melhor quando o caminho que vislumbro está limpo, é nesse momento que tudo recomeça, que está a caminho de novo rumo, porque antes muito vazio. Vazio, é como se estivesse no ponto, assim entendo que estou preparado para mais receber. Não há outra forma de dizer, sempre nos dizem que somos os autores das nossas vidas, se isso é verdade, porque tantas pessoas aparecem nas nossas vidas, e nos alugam os nossos pensamentos, ou nos roubam nossos corações? Não há outra forma de dizer, quanto mais autor sou do meu caminho, mais entendo que as encruzilhadas são muitas e complexas, constato que mais vale nada saber, e deixar o curso do rio levar-me fazendo assim o meu caminho!