É muito comum, lembrarmos com saudade o tempo que
ficou, seja com a nostalgia desse mesmo passado, seja através das lembranças,
invariavelmente boas, mesmo que esse passado nos tenha corrido menos bem. Como
se o tempo tivesse passado, e apenas tivesse permanecido em mim, as lembranças
das jovens tarde de Domingo, ou as tantas alegrias dos velhos tempos naquele
Outono distante. Hoje lembro com saudade, a alegria contagiante que sentia na
minha adolescência, aquela ilusão permanente que poderia transformar o Mundo,
esse Mundo que estava aí para o conquistar. Lembro-me como se tivesse acontecido
ontem. Aquela estranha sensação, de sentir muitas vezes, de que o tempo não
passou, apenas eu passei por ele. Vem a propósito de uma obra, de um livro de
que acabei de escrever. A história, é apenas ficção, não tem a ver, ou não
tem qualquer semelhança com a minha
vida, nem se trata mesmo de que como idealizaria a minha vida, ou de como a projectaria,
mas apenas uma história, que no fundo é uma viagem de alguém, e que escrita em
trezentas páginas, encerra um percurso. E a pergunta é, nessa história, escrita
por mim, que nessa lógica passou por mim, foi concebida e terminada em mim, tem
a ver comigo? Não, nada, apenas fui um veículo, embora muitos que a leiam,
a possam associar á minha vida. Engraçado como ao descrever a viagem dessa
personagem, fui em simultâneo fazendo uma viagem ao meu passado. E está lá
tudo, a história encarregou-se de o guardar, não é possível apaga-lo e voltar a
reescreve-lo. E tal como me parece que esse passado, continua sempre presente,
assim constato que de facto o tempo não passou por mim, apenas eu fui passando por ele!
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