sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A Caminhada!



Não vivo do passado, vivo com o passado, não vivo das minhas memórias, vivo com as minhas memórias, as memórias trazem-me meus fracassos, trazem-me meus sucessos, aprendo com os meus fracassos, mas prefiro cavalgar nos meus sucessos, o sucesso é o prémio, o prémio não está no fim da linha, está no caminho, na travessia, não interessa a demora, é indiferente, já o sabemos de antemão, porque o vamos vivendo, saboreando, ao longo da caminhada!                                       
Viver no passado é uma tarefa inútil e bastante solitária, olhar para trás tira-me discernimento, obriga-me a estar com pessoas, que já não existem, que não existem mais no meu caminho, prefiro caminhar no presente, no presente não estou mais solitário, o presente está cheio de gente, gente que está comigo no caminho,a utilidade do presente faz com que entenda a vantagem de estar acompanhado, de olhar para o lado e constatar como é bom não estar sózinho!


quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A chamada do outro mundo!



Ligaram-me do outro mundo, queriam saber coisas, de início não percebi, desconfiei do alcance, afinal de contas não tinha tradutor, sabia lá eu se quando me falavam do presente, se queriam referir ao futuro, não é fácil lidar com as gentes do outro mundo, insistiram muito, mesmo sem tradutor deu para isso perceber, parece que queriam comparar, apenas lhes disse que neste mundo existem muitos mundos, não entenderam, como era possível haver vários mundos, se apenas existia um mundo? aí tive necessidade de um interprete, o interprete tinha emigrado para outro mundo, fui-lhes adiantando que neste mundo também existem varias línguas, baralhei-os, acho que desistiram de querer comparar, nunca mais me ligaram, devem ter perdido o sinal de satélite, ligaram-me ontem outra vez, que pensaram um pouco e vão enviar um emissário, disse que lhes arranjava um quartito, para descansarem, não perceberam, parece que lá nesse mundo não se descansa, entretanto acordei, não estava ninguém no quartito, devem ter desistido, devem-se ter ido comparar com os marcianos, dizem que lá só se fala uma língua, deve ser a língua marciana, pensei melhor, não os vou receber, somos de mundos diferentes, prefiro não lhes dar importância, prefiro este mundo, pelo menos neste falamos várias línguas, sempre calha bem, nos dias em que estou com os azeites, fujo para outra província, aquela que fala outra língua, aí sei que ninguém me conhece, ninguém fala a minha língua, assim acabo por conhecer e comparar outros mundos!

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Beleza



A beleza é volátil, a qualquer momento pode-se desfazer, a beleza calcula-se mas não se mede, a beleza existe enquanto a beleza se puder provar, a beleza persegue-se, perseguindo a beleza corremos riscos, corremos o risco de trocar nossa beleza pela beleza nunca alcançada, a beleza é um obstáculo que nunca ultrapassarei, a beleza não se ultrapassa, não se alcança, a beleza mira-se, gosta-se, admira-se, a beleza aprecia-se, a beleza não se vive! De algum modo a beleza para nada serve, ás vezes só atrapalha, muitas vezes provoca dor nunca recuperada, outras vezes a beleza intoxica, faz-nos perder a nossa beleza, a beleza quando obsessiva atrapalha-nos, espanta-me quando tanto procuro a beleza nos outros, e deparo que lá não existe, a beleza é esguia,          escorregadia, ficamos com uma mão cheia de nada,
 
         quando procuramos a beleza onde ela nunca esteve, a beleza apenas se vive, na ilusão da beleza!

terça-feira, 28 de outubro de 2014

O Plano!



Fiquei a saber que o oceano do tempo mais tarde me devolve as memórias que nele enterrei, essas memórias funcionam muitas vezes como instruções, que agora uso para me manter á superficie, é isso, as memórias e as conclusões nelas inseridas,tornam-se nas tarefas necessárias, que o plano do tempo decidiu que tinha de implementar, talvez o tempo prefira, que se tivéssemos sempre instruções para cumprir, naquilo que o nosso tempo determina, tudo talvez passasse a ser uma tarefa, uma obrigação, uma tarefa desagradável, o tempo paciente,sempre me ensina, que talvez não saber, talvez não compreender, seja uma parte importante do plano!

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O Abraço!



Um abraço é algo tangível, palpável, que marca, não se abraça quem não se gosta, contrariamente a um aperto de mão, quiçá a um beijo, impossível dar um abraço a quem se sente pouco, ou se sente quase nada, não conseguimos mesmo, num abraço, mostramos ao outro, o quanto ele significa para nós, num abraço desfazemo-nos das nossas defesas, não se consegue dar um abraço a quem não foi leal connosco, por educação, cumprimento toda a gente, por educação só abraço quem eu gosto, o abraço é a expressão física em que mais me exponho, disfarço um beijo, disfarço um olá, não se disfarça um abraço, o abraço é real, é expressão de gratidão, é expressão de carinho, é expressão de amizade, é expressão de amor, só tudo isto exprimimos, quando finalmente somos reais, quando nos tornamos honestos connosco, abraço-me, quando paro de fugir de mim, abraço-me, quando me começo a respeitar, abraço-me, quando me decido gostar de mim!

domingo, 26 de outubro de 2014

A Suzete!



Suzete, era o seu nome, olhe que mudou-lhe as fraldas, dizia-me a minha Mãe, terá sido, não me lembro, difícil relembrar-me, foi há tanto tempo, desde lá, tantas fraldas me foram mudadas, tantas fraldas mudei, agora mais fácil, tudo descartável, entrámos na época do descartável, perigoso, quando tudo para nós se torna descartável, perdemo-nos quando tudo descartamos, com a força, com a embalagem que levamos, acabamos até por nos descartar a nós, aí ficamos em zonas perigosas, temos que rapidamente fazer marcha atrás, voltarmos para o nosso porto seguro,
Suzete, tão leal, tão atenta, tão cuidadosa, lembro-me bem, na fábrica, deixou as lides caseiras, voou para a nossa fábrica, para ir trabalhar com os meninos, ai de quem dissesse ou fizesse mal aos meninos, ninguém a queria ver com os azeites, sempre cuidadosa, vá meninos venham almoçar, hoje fiz-vos o prato que adoram, lulas guisadas, com arroz branco, deliciosos os almoços que Suzete nos confeccionava, aquelas mousses de chocolate, sempre cheia de nozes á mistura, o bavaroise de ananás, de comer e chorar por mais, os mimos prós meninos, como ela tantas vezes nos dizia, só para os meninos, doce de pessoa, doce de mulher, sempre tão leal, um dia lá te encontraremos de novo, lá nos veremos outra vez, de certeza que a pores a mesa do Céu em polvorosa, de certeza que S. Pedro não te deixará voltar, esperto o S. Pedro, iria lá ele prescindir daqueles almoços, daqueles jantares celestiais….