A casa
inacabada é tão só mais uma forma de ver e analisar a minha existência. Deparo
que já se passou aquilo que considero metade do meu período de vida, e constato
que ainda não passei da primeira fila de tijolo! Como se estivesse
sempre por acabar, como se estivesse sempre a iniciar o processo de construção.
Acabo sempre por descobrir aquele vício que carrego constantemente comigo, que
não é menos que aquela auto sabotagem que me habituei a desenvolver, aquela
forma de destruir tudo aquilo que já não considero importante. Como se tudo
aquilo que fui ontem, hoje já não considere importante. E depois aparece a
beleza, sempre naquela sua tão surpreendente aparição, que ao virar de uma
esquina irrompe do nada, surpreendendo até aquela minha eterna dúvida sobre se
ao tentar sabotar toda a construção do meu edifício, mantenho ainda a vontade
de a viver intensamente. A beleza surpreende-me das formas mais variadas,
aparece-me sempre do nada, faz com que tudo o que venho desperdiçando, se
transforme ela mesmo numa nova esperança. Como se me fosse indiferente voltar a
começar de novo, como se a nova fila de tijolo fosse encarada como nova
oportunidade de solidificar o muito já conseguido, até porque é na construção
que está o caminho. Acabo finalmente por descobrir que a casa talvez nunca vá existir, talvez porque estará sempre
inacabada!
Sem comentários:
Enviar um comentário