O Natal marca uma data, um período, todos os anos
o celebramos, algo que entrou naturalmente nos nossos hábitos, como se o ano
não existisse, não fosse o mesmo, se não o celebrássemos. No Natal é suposto
sermos solidários, essa é a condição subjacente a esse período. É talvez a
altura do ano, em que mais nos damos aos outros, a quadra que se celebra,
empurra-nos para isso. Recordo os Natais em que era mais novo, vivia-os
intensamente, sentia a magia no ar. Como Pai, voltei a senti-lo através dos
meus filhos. Era suposto o Natal sempre existir, dito de outra forma, era
suposto a mesma solidariedade existir sempre, não só no período do Natal.
Habituamo-nos ás datas, a seguir ao Natal vem o Carnaval, nesse período é
suposto sermos alegres, oficialmente só nesse período, antes ou depois, já
depende de muitos factores, de seguida a Pascoa, nesse período está previsto
sermos comedidos, no Natal o nascimento, a alegria, na Pascoa a morte, a
ressurreição, diz a data para aí sermos respeitadores. Daí até ás férias de
verão é um pulo, até essa data chegar, programamos o período onde finalmente
vamos descansar, nos vamos divertir, nessa altura, é suposto fazermos tudo o que
não conseguimos ao longo do ano, é hora para o divertimento, é suposto aí
divertirmo-nos, o período das férias a isso permite. Concluímos o ano com a
passagem para o ano seguinte, onde é suposto saltarmos, divertirmo-nos, estar
junto de quem mais gostamos, fazermos o balanço do ano que está a findar, fazermos
as previsões para ano seguinte, sonhar com um ano cheio de acontecimentos
felizes, de sonhos a cumprir. Descubro então que o ano passa a correr, vivo o
ano a projectar-me para o período a seguir, estou sempre projectado na quadra
seguinte, acabo por me perder na programação das datas, penso de acordo com a
quadra, ou momento que se está a passar, no Natal não raciocino como se estivesse
no período das férias, ou vice-versa, é estranho mas é a realidade, o meu
pensamento está condicionado á época que estou a viver. Deparo que não sou solidário
quando me era pedido, projecto a solidariedade para o Natal, aí é que deve ser
o momento próprio, divertir-me durante o ano, não o devo fazer, está programado
para acontecer só no período das férias, por aí fora, em diante. É pouco viver
assim, constato que vivo condicionado, parece-me que vivida assim, a vida se
mostra muito limitada. Entendo que me sinto realizado, mais feliz, quando me
liberto destes condicionamentos, a vida sorri-me quando corto com estas
amarras. Volto ao Natal, período em que sinto todo o mundo feliz e solidário,
não interessa se só por esse período, é o tempo de cada um, realizo que vivo
mais feliz, quando deixo o Natal, acontecer todos os dias, sinto-me mais
humano, quando não condiciono o que sinto ou penso, só á quadra que estou a
viver, descubro que o ano que vivo, pode ter datas, pode ter quadras, pode ter
festejos, pode ter-me inteiro, ou apenas dividido, condicionado ao que se vive
no exterior, ou apenas contente por saber que Natal, pode ser todo o ano!
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